meio podre mas bonita

outro dia estava eu meia noite em Paris entre vinho e chips com amigos contemplando a torre brilhar e refletir no Sena quando tive que jogar as pernas pro alto pra deixar os ratos passarem. fiz toda uma cena sozinha porque os amigos franceses nem se mexeram. “dois metros de distância eles ainda estão muito longe, relaxa”. t’inquiète pas.
te pergunto, Paris ficou mais feia? não.
eu sorrindo no stories do instagram com música de fundo é uma grande mentira se minha vida por trás do enquadramento tem choros e durezas? não necessariamente.
a vida, tal qual Paris, pode ser as vezes meio podre, mas ainda assim é bonita e é BONITA. as vezes o ângulo captura a Beleza de uma vida que as vezes é triste, suja, dolorida e cheia de morte… ah, a morte. se eu coloco meus olhos só na morte, Paris não se diferencia da minha cidade natal que é feia que dói. a morte é feia que dói. a vida as vezes só dói & os caminhos as vezes parecem ser só ratos sem torre brilhando no Sena.
existe uma falta de sentido irreparável na Beleza que se sujou. a Beleza que se quebrou. a Beleza que se desvirtuou.
não há sentido debaixo do sol.
mas a verdade é que nunca foi para ser assim. não era para ser desse jeito cheio de faltas & mortes, e bem sei que o plano inicial não contava com bueiros, sacos plásticos e podridões irremediáveis. o plano inicial não tinha um mundo doente, mas tinha rios, animais, conversas e árvores que davam frutos & Vida.
mas o que o plano inicial sempre teve, mesmo antes do início, é a solução/resposta/salvação. a solução é sabida por todos, sem desculpas.
sabida como? caso você nunca se pergunte, eu aqui te pergunto para responder.
a solução para o problema da podridão é sabida por causa da Beleza. é sabida porque Paris tem ratos e continua belíssima, porque os morros e vales do mundo emocionam, porque o mar tocando o céu faz chorar, porque o nascimento de um bebê muda tudo, porque o canto afinado arrepia, porque um dia criaram pão vinho chocolate e sorvete de pistache, porque existem abelhas, porque a gente faz arte, dança, beija, abraça, deseja e ama.
a Beleza berra & até no meio da podridão nos deixa saber: nunca foi para ser assim e um dia não será mais. não será nunca mais!

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